domingo, 5 de outubro de 2008

O DILÚVIO BRASILEIRO

No início do ano 2000, o Senhor chamou Noé da Silva e ordenou-lhe:
- Dentro de seis meses, farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, ate que todo o Brasil seja coberto pelas águas. Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos e um casal de cada espécie animal. - e ordena, como na passagem bíblica, a construção de uma arca de madeira.
No tempo certo, os trovões deram o aviso e os relâmpagos cruzaram o céu. Noé da Silva chorava ajoelhado no quintal quando ouviu a voz do Senhor soar furiosa entre as nuvens.
- Onde está a arca, Noe?
- Perdoe-me, Senhor - suplicou o homem. - Fiz o que pude, mas encontrei dificuldades imensas. Teria primeiro que obter uma licença da Prefeitura e pagar altas taxas para obter o alvará. Acabaram me pedindo contribuição para a campanha do prefeito a reeleição. Precisando de dinheiro, fui aos bancos e não consegui empréstimos, mesmo aceitando aquelas taxas de juros. Afinal, nem teriam mesmo como me cobrar depois do dilúvio. O Corpo de bombeiros exigiu um sistema de prevenção de incêndio, mas consegui subornar um funcionário. Começaram então os problemas com o Ibama para a extração da madeira. Eu disse que eram ordem suas, mas eles só queriam saber se o projeto fazia parte do PPA. Tentei falar com o relator, mas eles estavam brigando pelo cargo no Congresso. Neste meio tempo, o Ibama descobriu também uns casais de animais guardados em meu quintal e me aplicaram uma pesada multa. Quando resolvi começar a obra na raça, apareceu o sindicato exigindo que eu contratasse seus marceneiros com garantia de emprego por um ano. Veio em seguida a Receita, falou em sinais exteriores de riqueza e me multou também.
A Secretaria de Meio Ambiente pediu o Relatório de Impacto Ambiental sobre a zona a ser inundada. Quando mostrei o mapa do Brasil, chamaram o servidor psiquiátrico!
Noé da Silva terminou o relato chorando, mas notou que o céu clareava.
- Senhor, então não irás mais destruir o Brasil?
- Não! - respondeu a voz entre as nuvens. - Já fizeram isso por mim.

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